Regressado a Portugal em 1974, é eleito deputado à Assembleia Constituinte, assumindo também os seus cursos na Faculdade de Letras do Porto. Aí cria o Centro de Estudos Pessoanos e colabora na revista Persona. Desta época de grande fecundidade intelectual, data também o projecto do movimento “Nova Renascença”, a que se entrega, recriando noutro contexto o movimento portuense “Renascença Portuguesa”. Data de 1980, o aparecimento do primeiro número da revista Nova Renascença.
Recolha de poemas desta época, sob o signo de Mallarmé e na “experiência do Amor reencontrado de uma companheira que comigo os (transes) partilhou”, é a obra Desmemória, publicada em 1977. Confessa José Augusto Seabra a influência de S. João da Cruz, “retomando o rasto da minha fé abalada da infância”.
Data também desta época, O Anjo, um conjunto de 25 poemas, mistico-esotérico. O Anjo reenvia certamente a Rilke e Pessoa, enquanto busca dum signo entre imanência e transcendência.
Em 1985, aparece a Gramática grega, escrito em Creta, na altura em que era Ministro da Educação no governo do bloco central, presidido por Mário Soares. O fascínio da cultura grega, aparece em todos os poemas. Este deslumbramento aparece, sob outros sóis, em Poemas do nome de Deus, publicados em 1980, em português e chinês, onde, sob o signo de Macau, o poeta evoca o Oriente e «o Oriente, a oriente do Oriente».
Colocado como diplomata na UNESCO, publica nesse mesmo ano Fragmentos do Delírio, um texto subtil e atento à descontinuidade, com influência do seu encontro com Vieira da Silva. Eleito para o Conselho Executivo da UNESCO, viu-se forçado pelo então Governo português a abandonar este cargo, tendo sido colocado na Índia como Embaixador, lugar que recusa, voltando ao seu lugar de Professor em Paris.
Publica com sua esposa Norma Tasca, em 1993, a obra Enlace, no dia do seu casamento católico, obra escrita a duas mãos, em enlace, dedicada à mãe Anísia, para que ela o consagrasse “para além da morte”. Amar a Sul, aparecido em Porto Alegre, em 1997, representa o alargamento a sul, após a experiência grega e a experiência do Oriente, um novo signo, cheio de figurações luso-brasileiras. Como se a experiência da errância encontrasse um novo ancoradouro.
Significativa desta busca e achamento, é a sua obra as Sombras do Nada, aparecida em 1996, diálogos entre o poeta e a sombra, entre o haurido e o indefinido, ainda sob o signo de Pessoa e Pascoaes.
Sempre atento à encarnação dialogal da cultura portuguesa e sensível aos lugares de passagem, publica Seabra, como recordação da Roménia Conspiração da Neve e da Argentina, com a autoria de J. Luís Borges, Destino e obra de Camões.
Reconsiderando o conjunto da obra do Professor Embaixador na sua totalidade e a vida que por ela perpassa, vem-nos à mente o verso de Hölderlin que reza assim: “Nós somos um signo vazio de sentido / Insensível e longe da Pátria / Nós quase perdemos a palavra”.
Efectivamente as palavras errância, exílio, itinerância, oriente, aparecem constantemente na sua obra que se alarga, metonimicamente, como escreveu em Amar a Sul, a outros espaços, como a Grécia, Macau, Porto Alegre, Roménia, Argentina, como se cada pessoa e cada lugar levassem em si a possibilidade de abrir os signos, de os prolongar ou de os transmutar. “Tudo se passa, escreveu magistralmente na introdução a sua autobiografia intitulada De Exílio em Exílio (Porto, 2004), no sentido agónico do termo, como se uma carência absoluta atravessasse a trama do acontecer e do narrar”. Ir a Oriente ou a Ocidente, aqui ou ali, entre tópico e utópico, atravessa a vida e põe irremediavelmente a questão colocada por Pessoa: “Para que fui à Índia que há / Se não há Índia senão na minha alma?”
Na sua obra, de facto, perpassa, como confessou no Prefácio à Antologia Pessoal (Brasília, 2001) “o constante contraponto de duas vocações, cuja tendencial coincidência não foi por vezes sem tensões extremas: a da palavra escrita que no poema cristaliza, irradia ou se refracta e a da palavra agida a todos os níveis, uma e outra movendo-se em tempos entrelaçados. Mas em primeira e última instância só a palavra salva”.
Bibliografia de José Augusto Seabra
A Vida Toda (Porto 1961), edição do autor.
Os Sinais e a Origem (Lisboa 1972), Portugália Editora.
Tempo Táctil (Lisboa 1972), Portugália Editora.
Desmemória (Porto 1977), Brasília Editora.
O Anjo (Porto 1980), Ed. Nova Renascença.
Gramática Grega (Porto 1985), Ed. Nova Renascença.
Do Nome de Deus (Macau 1990), Instituto Internacional de Macau.
Fragmentos do Delírio (Ponta Delgada 1990), Ed. Signum.
Epígrafes (Málaga 1991), Ed. Angel Caffarena.
Enlace, em col. com Norma Tasca (Porto 1993), Fundação Eng. António de Almeida.
Sombras de Nada (Lisboa 1996), Quetzal Editores.
Amar a Sul (Porto Alegre 1997), Ed. Movimento.
O Caminho Íntimo para a Índia (Macau 1999), Lello e Instituto Cultural de Macau.
Conspiração da Neve (Coimbra, 1999), Ed. Minerva.
Vários livros de Poemas estão traduzidos. Incluído em diferentes Antologias estrangeiras.
Ensaios
Fernando Pessoa ou o poetodrama (1.ª ed. S. Paulo 1974; 3.ª ed.. revista Lisboa 1988)
Poiética de Barthes (Porto 1980), Brasília Editora
O Heterodoxo pessoano (1.ª ed. Lisboa 1985;: 2.ª ed. S. Paulo), Ed. Perspectiva.
Poligrafais Poéticas (Porto 1984), Lello Editores.
Edição Crítica
Mensagem e Poemas Esotéricos de Fernando Pessoa, col. “Archivos”, Madrid 1993.