Jaime Salazar Sampaio
(Lisboa, 05-05-1925, Lisboa,13-04-2010)
Jaime Augusto Salazar Sampaio foi talvez o autor português contemporâneo mais representado em Portugal por dezenas de companhias profissionais e amadoras que, desde os anos 60, o foram inserindo regularmente nos seus repertórios.
Jaime Salazar Sampaio: Capa de livro com fotografia de Rui Aguiar. |
A peça de estreia, Aproximação, foi redigida em 1944 e editada no ano seguinte na antologia de vários autores Bloco - 1ª Pedra, imediatamente apreendida pela censura, que viu como sinais ameaçadores o vermelho da capa e as invocações à liberdade no texto. Entre 1949 e 1960 dedicou-se à poesia e à narrativa, que editou em cinco volumes: Em rodagem (1949), Poemas propostos (1954), O romance de uma rosa verde (1955), Palavras para um livro de versos (1956), O silêncio de um homem e O ramal de Sintra (ambos de 1960) – de tom prevalentemente surrealista e existencialista. Mais dois volumes, O viajante imóvel e O mar não precisa de poetas, foram editados, respetivamente, em 1977 e em 1998. Um processo diferente caracteriza o livro As primeiras palavras foram de amor (2007), organizado por Luís Valente Rosa, que isolou excertos poéticos retirando-os de variada escrita do autor, especialmente para teatro. De algum modo, foi recentemente anunciada a intenção por parte da Sociedade Portuguesa de Autores de reeditar a poesia completa.
Afirmou-se, no entanto e inequivocamente, sobretudo como dramaturgo, aproximado com frequência aos cultores dum teatro do absurdo lusitano que tentavam inserir elementos de protesto mais ou menos cifrados a fim de ultrapassar a barreira censória erguida pelo regime salazarista. Motivações e mal-estar de ordem social e política entrelaçam-se com as ansiedades existenciais das suas personagens, caracterizadas pela solidão, pelo desespero e pela desconfiança no poder de salvação de dogmas e ideologias, que são traços constantes da quase totalidade da sua produção. Não é por acaso que Strindberg, Pirandello, Pessoa e Beckett surgiram entre os autores de eleição de Salazar Sampaio e que influenciaram aquela espécie de “teatro de câmara” (FÉTEIRO, 1974: 241), íntimo e intimista, que distinguimos na sua obra.
Em 1974, em concomitância com a queda da ditadura e apesar de manter as suas peculiaridades, registou-se uma breve fase orientada para a crítica social mais ativa, solicitada pelas circunstâncias históricas que o país estava a viver. Pertencem a essa fase Nesta hora grave, A inauguração da estátua, Os preços e Árvores, verdes árvores, redigidas as primeiras duas em 1974, as outras respetivamente em 1976 e 1979 (na última, o autor inseriu a sua experiência profissional de engenheiro silvicultor), enquanto os anos 80 marcaram o regresso às atmosferas dos textos de estreia. Nos tempos mais recentes, porém, voltou a espreitar, ou por vezes a ter uma presença mais incisiva e explícita, a atitude crítica e posicionada.
A sua fecunda atividade na escrita dramática incluiu cerca de sete dezenas de peças, na sua grande maioria já levadas repetidamente à cena, reunidas em cinco volumes de Teatro completo, saídos com a chancela da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Assinalando a data de redação mais significativa apesar de anteriores edições, lembrem-se, entre outros, alguns títulos: O pescador à linha (1961, primeiro texto apresentado publicamente no mesmo ano no Teatro Nacional D. Maria II num ciclo para jovens autores), Nos jardins do Alto Maior (1962, foi imediatamente proibido o espetáculo, em preparação na Sociedade Guilherme Cossoul), Conceição ou um crime perfeito (1962), O falhanço (1964), As sobrinhas (1964), Junto ao poço (1964) Os outros (1965), Os Visigodos (1965), A batalha naval (1969), O desconcerto (1980), O sobrinho (1980), Fernando (Talvez) Pessoa (1981, versão dramática da heteronímia pessoana), Madgalena (1981), Adieu (1989), Rosas e aplausos para Isabel (1989), O meu irmão Augusto (1989), Arraial, arraial (1991), Aqui. De passagem... (1991), O jardim público (1994), Um homem dividido (1995, balanço duma vida dedicada ao teatro, vencedor em 1997 do Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores/Ministério da Cultura), O professor de piano (1996), O homem da gravata de lã (1996), A ínclita geração (1998), E se. Por acaso. Ainda (1998), Irmandade (1998), In-ter-va-lo (1998), Uma questão de tempo (1999), A escolha acertada (2000), A vidraça (2001), O veredicto (2002), A esperança (2003), A colecção (2004) e A pista fechada (2005). Em 2009 saiu também o volume Lanterna mágica: Vinte e três peças curtas, curtinhas e encurtadas, com prefácio de António Braz Teixeira, que contém peças curtas e “encurtadas”, ou seja, com cenas extraídas de peças já editadas e que ganharam autonomia.
Constante, a partir dos anos 60, foi também a sua atividade de tradutor de teatro, desempenhada por vezes em colaboração com outros autores, de que resultaram versões em português de peças de Beckett, A. Miller (com Luiz Francisco Rebello), Obaldia, Arrabal (com Jorge Santo Pinto), Gorki (com Jorge Silva Melo e Luís Miguel Cintra), J.-P. Wenzel, Pinter (com Artur Ramos), F.X. Kroetz (com Maria Amélia Silva Melo), Joyce, Fuggard, G.B. Shaw (estes três com Luísa Gaiolas), Genet (com Maria José Pinto), Deutsch, Carsana, Albee (com Theo Wolf) e Finn Junker (com António Simão). Foi também corredator de sete antologias literárias destinadas ao ensino secundário e de vários artigos sobre o ofício de dramaturgo. Em novembro de 1999 o Grupo de Teatro de Portalegre, um dos mais assíduos na encenação dos seus textos, montou uma exposição, Jaime Salazar Sampaio: Percursos de um dramaturgo, integrada no Festival Internacional de Teatro, que nesse ano lhe foi dedicada. Essa mesma exposição, doada ao Museu do Teatro, foi ainda integrada e exposta nas suas instalações, em 2003, tendo sido a primeira dedicada a um dramaturgo contemporâneo.
* Este texto é a versão revista e em português da ficha bio-bibliográfica de Jaime Salazar Sampaio editada in: Sebastiana Fadda (a cura di), Teatro portoghese del XX secolo, Roma, Bulzoni Editore, 2001. Desta antologia faz parte a peça Magdalena.
Textos de/para teatro
1944: Aproximação.
1961-1972: O pescador à linha.
1962-1972: Nos jardins do Alto Maior.
1962-1977: Conceição ou um crime perfeito.
19641968: O falhanço.
1964-1968: As sobrinhas.
1964-1971: Junto ao poço.
1965-1975: Os outros.
1965-1968: Os Visigodos.
1964-1969: A batalha naval.
1970: O bolo.
1971-1972: Agora, olha...
1964-1974: Nesta hora grave.
1974: A inauguração da estátua.
1976: Os preços.
1977: Viva o teatro!
1978-1996: O viajante imóvel.
1979: Árvores, verdes árvores.
1980: O desconcerto.
1944: Aproximação.
1961-1972: O pescador à linha.
1962-1972: Nos jardins do Alto Maior.
1962-1977: Conceição ou um crime perfeito.
19641968: O falhanço.
1964-1968: As sobrinhas.
1964-1971: Junto ao poço.
1965-1975: Os outros.
1965-1968: Os Visigodos.
1964-1969: A batalha naval.
1970: O bolo.
1971-1972: Agora, olha...
1964-1974: Nesta hora grave.
1974: A inauguração da estátua.
1976: Os preços.
1977: Viva o teatro!
1978-1996: O viajante imóvel.
1979: Árvores, verdes árvores.
1980: O desconcerto.
1980: O sobrinho.
1978-1981: Fernando (Talvez) Pessoa.
1981: Madgalena.
1988: Olá, Fernando.
1985-1989: Adieu.
1981-1989: Rosas e aplausos para Isabel.
1989: O meu irmão Augusto.
1991: Arraial, arraial.
1991-1994: Aqui. De passagem...
1981-1992: Chegaram as andorinhas.
1994: O jardim público.
1995: Um homem dividido.
1995: Amadores e profissionais.
1978-1996: A jornada.
1991-1996: O professor de piano.
1996: O homem da gravata de lã.
1997: Incidente numa pastelaria.
1997: Paragem de autocarro.
1997: O escadote.
1997: O bom caminho.
1997: Contrato nupcial.
1998: E se. Por acaso. Ainda.
1998: Irmandade.
1998: A ínclita geração.
1998: In-ter-va-lo.
1999: Uma questão de tempo.
2000: A escolha acertada.
2001: A vidraça.
2001: Peixinho grelhado.
2001: A chuva. O amor. A infância.
2001: Teatro.
2002: O veredicto.
2003: Lição de amor num aeroporto.
2003: A esperança.
2004: A colecção.
2004: Pelos caminhos deste território.
2004: Algumas palavras, numa sala de espera.
2005: A pista fechada.
2005: No palco.
2006: Agora.
2006: O cinzento.
2006: O local exacto.
2007-2008: Ao fim da tarde, um visitante.
2007: Comboios, comboios.
2007: A poeira das estradas.
2006-2008: O rosto.
2007-2008: Neste contexto. E nestas circunstâncias.
2008: Animatógrafo.
2008: Instantâneo numa rua da cidade.
2008: A visita.
2008: A segunda porta.
2008: Três mulheres. Três becos. Três saídas.
2009: A cavalgada.
SAMPAIO, Jaime Salazar (1997). Teatro completo: Vols. I e II. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Biblioteca de Autores Portugueses.
SAMPAIO, Jaime Salazar (2002). Teatro completo: Vol. III. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Biblioteca de Autores Portugueses.
SAMPAIO, Jaime Salazar (2005). Teatro completo: Vol. IV. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Biblioteca de Autores Portugueses.
SAMPAIO, Jaime Salazar (2009). Lanterna mágica: Vinte e três peças: Curtas, curtinhas, encurtadas. S/l: dimensão6.
SAMPAIO, Jaime Salazar (2010). Teatro completo: Vol. V. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Biblioteca de Autores Portugueses.
Bibliografia
CRUZ, Duarte Ivo (2005). O essencial sobre Jaime Salazar Sampaio. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
FADDA, Sebastiana (1997). O teatro do absurdo em Portugal. Lisboa: Edições Cosmos.
___ (2003). “O silêncio segundo Salazar Sampaio”, in Jaime Salazar Sampaio, Percursos de um dramaturgo, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Colecção Arte e Artistas, pp. 15-22.
___ (2006). Escritas à beira do palco. Lisboa, Publicações D. Quixote.
___ (2010). “Palavras, silêncios e entrelinhas. In memoriam de Jaime Salazar Sampaio”, in Sinais de cena, revista da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro - Centro de Estudos de Teatro, Porto, Húmus, n.° 14, Dezembro, pp. 59-67.
FÉTEIRO, Carlos Paniágua (1974). “Este teatro: uma leitura”, in Jaime Salazar Sampaio, Seis peças. Lisboa: Plátano Editora, Colecção Teatro Vivo.
MACHADO, Álvaro Manuel (1996). “Jaime Salazar Sampaio”, in Álvaro Manuel Machado (dir.), Dicionário de literatura portuguesa. Lisboa: Editorial Presença.
REBELLO, Luiz Francisco (1984). 100 anos de teatro português (1880-1980). Porto: Brasília Editora.
SERÔDIO, Maria Helena (2004). “Dramaturgia”, in AA.VV., Literatura portuguesa do século XX. Lisboa: Instituto Camões, Colecção Cadernos Camões, pp. 95-141.
Consultar ficha de pessoa na CETbase:
http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Pessoa&ObjId=243
Consultar imagens no OPSIS:
http://opsis.fl.ul.pt/
Sebastiana Fadda / Centro de Estudos de Teatro