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Fernando Amado

TPL_WARP_POSTED_IN Teatro em Portugal - Pessoas

(Lisboa, 15-06-1899 – Lisboa, 23-12-1968)

A atividade de Fernando Alberto da Silva Amado enquanto ator, encenador, professor, dramaturgo ou diretor de grupos de teatro, pautou-se sempre por uma urgência em romper com a mediania intelectual vigente.

  Fernando Amado
  Fernando Amado, s.d. [AMADO, Fernando (1999). À boca de cena. Lisboa: & etc.]

Estreou-se no teatro em 1946, com o espetáculo A caixa de Pandora, pelo grupo Casa da Comédia – do qual foi um dos fundadores –, acumulando as funções de encenador, ator e dramaturgo. Contudo, o seu primeiro texto dramático, de marcada influência futurista, O homem-metal, data de 1916. A sua obra apresenta, também, incursões pelo simbolismo, modernismo e existencialismo.

Licenciado em Ciências Histórico-Geográficas pela Faculdade de Letras de Lisboa, foi um homem conservador, partidário do ‘integralismo lusitano’ e monárquico, o que não o impediu de conviver com as ideias mais progressistas e de cativar amizades e respeito nos mais diversos quadrantes políticos. Ainda jovem deixou-se seduzir pelo grupo de Orpheu, estabelecendo com Almada Negreiros uma amizade e uma cumplicidade que atravessa toda a sua vida e obra. Deste modo, foi sob a égide do futurismo de Orpheu que escreveu o seu primeiro texto dramático, O homem-metal (1916), sendo depois autor de mais de três dezenas de peças de teatro. Até ao início dos anos 50 publicou vários textos sobre pintura, teatro e temas monárquicos na Revista de Portugal e na Variante. Foi diretor, entre 1941 e 1946, do jornal Aléo – Boletim das Edições Gama, assinando artigos sobre várias matérias, entre as quais críticas a espetáculos de teatro (publicados sob o pseudónimo ‘Ariel’).

Iniciou, em 1946, a sua actividade teatral, estreando-se simultaneamente como encenador, ator e dramaturgo em A caixa de Pandora com a Casa da Comédia, um grupo de teatro formado no Centro Nacional de Cultura, instituição a cuja criação esteve ligado. A iniciativa foi bem recebida pela crítica, que aplaudiu o esforço inovador e renovador de um grupo que assim ofuscava muito do teatro profissional praticado na altura.

A sua carreira teatral prolongou-se após este início auspicioso, mantendo uma regular produção de textos dramáticos e, em 1949, no Teatro Estúdio do Salitre encenou Antes de começar de Almada Negreiros e o seu próprio texto O casamento das musas. Lecionou Estética Teatral (de 1954 a 1967) e Arte de Representar (em 1958/59) no Conservatório Nacional, onde teve também a oportunidade de encenar vários espetáculos com os alunos. Entre 1955 e 1962, dirigiu vários grupos de teatro universitário e de amadores, tais como o Teatro Universitário de Lisboa (1955-58), o grupo de teatro da paróquia de S. João de Deus (1956-58), o grupo de teatro da Faculdade de Letras e o grupo de teatro da Academia de Amadores de Música (1960). Apresentou, com alguma regularidade, em 1960 e 1961, espetáculos no Centro Nacional de Cultura e na Fábrica de João Osório de Castro, em Mafra. Esta atividade permitiu-lhe manter uma prática de encenação regular e o contacto com jovens atores e atrizes, através do qual testou métodos de ensaio e de trabalho.

Em 1963, com o apoio de João Osório de Castro e um grupo de jovens atores amadores, fundou a Casa da Comédia, inaugurando também um novo espaço teatral revitalizado para o efeito: o Teatro de Bolso de Lisboa – Casa da Comédia (Rua S. Francisco de Borja, nº 24). Dirigiu este grupo, encenando aí diversos espetáculos, entre os quais: Verbo escuro & Regresso ao paraíso, de Teixeira de Pascoais; Farsa chamada Auto da Índia, de Gil Vicente; Deseja-se mulher, de Almada Negreiros, Loa para o auto do Divino Narciso, de Soror Juana Inez de la Cruz; O mentiroso e O pobre marujo, de Jean Cocteau; bem como alguns dos seus textos, dos quais se destacam Véspera de combate, Descobri uma estrela e O pensador, em 1963; e O iconoclasta ou o pretendente imaginário, em 1964, retirando-se no ano seguinte por motivos de saúde.

Grande parte da sua obra apresenta uma construção baseada numa cena rápida, concisa e brilhante, síntese de conflitos humanos e sociais profundos e reflexivamente sentidos. A sua visão do teatro, transposta em vários escritos teóricos e críticos da sua autoria, encontra-se reunida na obra À boca de cena, publicada em 1999.

 

Coletâneas

AMADO, Fernando (1999). À boca de cena. Lisboa: & etc.

___ (2000). Peças de Teatro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda.

 

Bibliografia

COELHO, Rui Pina (2006). “A Casa da Comédia (1946-1975): De Fernando Amado a Bertolt Brecht”, in Sinais  de  cena (APCT/CET), nº6, Dezembro, pp. 121-128.

___ (2007). “Ariel, o renovador. A crítica teatral de Fernando Amado como expressão de um ideário de teatro” in ACT15: Teatro e Tradução – Palcos de Encontro (org. Maria João Brilhante e Manuela Carvalho). Porto: Campo das Letras.

___ (2009). Casa da Comédia (1946-1975): Um palco para uma ideia de teatro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda.

CRUZ, Duarte Ivo (1969). “Fernando Amado: Introdução a uma homenagem necessária”, Artes e Letras, Ano XIV, nº 72.

___ (2001). História do Teatro Português. Lisboa: Editorial Verbo.

FERREIRA, David Mourão (s/d.). “Fernando Alberto de Silva Amado” in Luiz Francisco Rebello (dir.), Dicionário do teatro português. Lisboa: Prelo (incompleto: até à letra L).

SOBRAL, Augusto (2000).“Sobre a obra teatral de Fernando Amado: Prefácio” in Peças de Teatro. Organização de Teresa Amado e Vítor Silva Tavares. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.

VIANA, António Manuel Couto (1999).“Fernando Amado” in Ler, escrever e contar: estudos e memórias. Lisboa: Universitária Editora, pp. 227-248.

 

Consultar a ficha de pessoa na CETbase:

http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Pessoa&ObjId=14383

Consultar imagens no OPSIS:

http://opsis.fl.ul.pt/

 

Rui Pina Coelho/Centro de Estudos de Teatro