Branquinho da Fonseca
(Mortágua, 04-05-1905 – Malveira da Serra, 16-05-1974)
António José Branquinho da Fonseca foi um dos fundadores da Presença, revista onde publicou o seu primeiro texto dramático, A posição de guerra, em 1928.
António Branquinho da Fonseca, 1964, fot. M. Neves [cortesia do Arquivo Histórico Municipal de Cascais] |
Contudo, a sua primeira publicação efetiva foi um volume de poesia em 1925. Fundou, também, a revista Tríptico e a Sinal onde publicou um outro texto dramático intitulado Curva do céu. Este texto, de 1930, constitui o único texto dramático encenado em vida do autor, no Teatro-Estúdio do Salitre. Luís de Sttau Monteiro realizou, em 1964, uma adaptação para o teatro do conto de Branquinho da Fonseca O Barão.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, Branquinho da Fonseca exerceu a profissão de Conservador do Registo Civil em Marvão, no Alentejo. Fundou e dirigiu, em 1927, juntamente com João Gaspar Simões e José Régio, a revista coimbrã Presença, que segundo alguns críticos divulgou o modernismo em Portugal – como continuadora da ação da revista Orpheu – e, para outros, seria antes uma “contrarrevolução”. Nas páginas da presença, que advogava uma literatura anti-académica orientada para a exaltação do indivíduo, da intuição e da análise psicológica, Branquinho da Fonseca publicou, no nº 16, o drama em um ato A posição de guerra (1928) e, no n.º 23, o diálogo Os dois (1929). A posição de guerra, que Luiz Francisco Rebello considerou uma das melhores peças do autor, foi posteriormente publicada em separata da mesma presença, ficando também incluída nos volumes Teatro (1973, com um prefácio de L.F. Rebello acerca do autor e das coordenadas estético-teatrais da época que teriam influenciado a escrita do autor), bem como no volume Teatro português em um acto (1900-1945), (com organização, seleção e notas ainda de L.F. Rebello, 1997), mas nunca chegou a ser levada à cena.
Em 1930, Branquinho da Fonseca afastou-se do grupo presencista e, logo a seguir à cisão, a que aderiram mais dois colaboradores, Edmundo de Bettencourt e Miguel Torga, fundou com este último a revista Sinal, de que saiu apenas um número, nesse mesmo ano, e no qual apareceu o poema dramático Curva do céu. A peça, juntamente com a parábola em 9 quadros A grande estrela, o apólogo em um ato Rãs e o apontamento para mais um texto teatral, Quatro vidas, foi reeditada poucos anos depois no volume Teatro I (1939) sob o pseudónimo António Madeira. Curva do céu, para além de ter sido incluída também no ensaio antológico de responsabilidade de Luiz Francisco Rebello, Teatro português do romantismo aos nossos dias (1959) e na antologia Teatro (1973), é também a única peça que chegou ao palco. Mais exatamente, foi representada a partir do dia 17 de Julho de 1947 pelo Teatro Estúdio do Salitre, círculo experimental e vanguardista cofundado no ano anterior pelo historiador de teatro e dramaturgo Luiz Francisco Rebello (que foi também encenador do espetáculo) e por Gino Saviotti, diretor do Instituto Italiano de Cultura em Portugal que disponibilizou o minúsculo palco do Instituto situado na rua que deu o nome à companhia e ao seu espaço de representação. Há, também, registos de dois textos teatrais cujo paradeiro se desconhece: O passo, um melodrama em três atos, e Paralelas, um drama em um ato e um intervalo (REBELLO 2010: 218).
Se é sobretudo à literatura strictu sensu que o autor deve a sua fama, “[c]ombinando elementos de progénie simbolista com certas experiências surrealistas, o teatro de Branquinho (reunido em 1973 em um volume único) prolonga, na geração presencista o vanguardismo do Orpheu” (REBELLO 1984: 75), sobrepondo “o mundo real e o mundo imaginário, cada um dos quais ao mesmo tempo contém o outro: ‘o sonho é sonhado no vivido’ escreveu Vitorino Nemésio acerca das admiráveis novelas de Branquinho, cujas virtudes essenciais o seu teatro mantém intactas, ainda que em mais reduzida escala” (apud REBELLO 1959: LXIX). A estas qualidades se junta uma habilidade “caracterizada, antes de mais, pelo dom de sugerir a existência de múltiplos planos nas figuras que cria, pela extrema fluência dialogal em que elas se exprimem, pela alternância de transparência e de opacidade nas atmosferas em que se movem [...] Mergulham, com efeito, numa luz de estranheza os seus ambientes e personagens arrancados ao quotidiano; e, em contrapartida, nunca por completo se evadem da realidade as suas sondagens nos domínios do insólito. Devem-se-lhe, por outro lado, como poeta e como dramaturgo, algumas das mais válidas experiências do nosso vanguardismo pós-modernista” (MOURÃO-FERREIRA 1976: 349). Há, na sua obra dramática, um traço transversal a todos os textos: “a temática do homem, essencial, descarnado, nu, em busca das raízes da sua explicação e das vias da sua comunicação” (CRUZ 1965: 76). São também destacados, frequentemente, “três elementos do universo ficcional de Branquinho da Fonseca: o realismo, o lirismo e o grotesco” (FERREIRA 2010: 57). Luiz Francisco Rebello salientou, por sua vez, a brevidade, a concisão e o esquematismo que caracterizam os textos dramáticos de Branquinho da Fonseca e que se manifestam tanto a nível da estrutura como do conteúdo (REBELLO 2010: 218).
A sua primeira publicação, Poemas (1925), revela, porém, uma inspiração poética incipiente, mais sólida em Mar coalhado (1932), mas que não terá continuidade, a não ser sob a forma da diluição numa prosa densa e poética: Zonas (1931), Caminhos magnéticos e O barão (publicados respetivamente em 1938 e 1942 com o pseudónimo A. Madeira), Rio turvo e outros contos (1945), Porta de Minerva: a terra prometida (1947), Mar santo (1952), Bandeira preta (1955). Em tradução, saíram Baronen og andre noveller (Oslo, 1981), Le baron, Les mains froides, L’involontaire (Paris, 1990) e The Baron (Santa Barbara, 1996). A partir da sua obra-prima narrativa, a novela O barão, em 1964 foi editada uma adaptação teatral assinada pelo dramaturgo Luís de Sttau Monteiro; uma tentativa de montagem foi proibida pela censura em 1968, mas conseguiu ser levada à cena de maneira semi-clandestina em 1971 pelo grupo Movimento de Ensaio. Para além de ter organizado algumas antologias como As grandes viagens portuguesas (1946) e Contos tradicionais portugueses (1963), o autor foi tradutor de obras de Duhamel, Silone e Stendhal.
* Este texto é a versão revista e em português da ficha bio-bibliográfica de Branquinho da Fonseca editada in: Sebastiana Fadda (a cura di), Teatro portoghese del XX secolo, Roma, Bulzoni Editore, 2001. Desta antologia faz parte a peça La posizione di guerra.
Textos de/para teatro
1928: A posição de guerra.
1929: Os dois.
1930: Curva do céu.
1939: A grande estrela.
1939: Quatro vidas.
1939: Rãs.
FONSECA, Branquinho da (1973). Teatro. Lisboa: Portugália.
FONSECA, Branquinho da (2010). Obra completa: Vol. I [Poemas, Livro de Salomão, Mar coalhado, Poemas dispersos, Vento de longe, Teatro, Zonas, Caminhos magnéticos]. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Bibliografia
CRUZ, Duarte Ivo (1965). Introdução ao Teatro Português do Séc. XX. Lisboa: Espiral.
___ (2001). História do Teatro Português. Lisboa: Editorial Verbo.
FERREIRA, António Manuel et. al. (2007). Sobre Branquinho da Fonseca. Faro: Universidade do Algarve.
MACHADO, Álvaro Manuel (1996). “Branquinho da Fonseca”, in Álvaro Manuel Machado (dir.), Dicionário de literatura portuguesa. Lisboa: Editorial Presença.
MOURÃO-FERREIRA, David (1976). “Branquinho da Fonseca”, in Jacinto do Prado Coelho (dir.), Dicionário de literatura portuguesa, brasileira e galega, vol. I. Porto: Figueirinhas.
PICCHIO, Luciana Stegagno (1969). História do Teatro Português. Lisboa: Portugália Editora.
REBELLO, Luiz Francisco (1959). Teatro português do romantismo aos nossos dias: cento e vinte anos de literatura teatral portuguesa, vol. I. Lisboa: Edição do Autor.
___ (1973). “Prefácio” in Branquinho da Fonseca, Teatro. Lisboa: Portugália Editora.
___ (1984). 100 anos de teatro português (1880-1980). Porto: Brasília Editora.
___ (2010). “Prefácio” in Obras Completas de Branquinho da Fonseca. Lisboa: IN-CM.
SERÔDIO, Maria Helena (2004). “Dramaturgia”, in AA.VV., Literatura portuguesa do século XX, Colecção Cadernos Camões, pp. 95-141. Lisboa: Instituto Camões.
Consultar a ficha de pessoa na CETbase:
http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Pessoa&ObjId=33481
Consultar imagens no OPSIS:
Sebastiana Fadda/Centro de Estudos de Teatro