António Patrício
(Porto, 07-03-1878 – Macau, 04-06-1930)
António Pires Patrício formou-se em medicina, mas dedicou-se profissionalmente à diplomacia, atividade que se refletiu na sua produção literária – composta por poesia, narrativa e teatro – pela mobilidade que lhe exigia.
António Patrício, s.d. (Porto, 07-03-1878 – Macau, 04-06-1930) |
O seu teatro insere-se na estética simbolista, havendo também influências do drama histórico, como em O fim, o mais representativo dos seus textos dramáticos, escrito em 1909, mas encenado apenas em 1971, pela Casa da Comédia. Foi também colaborador de várias publicações, como a revista Águia.
As viagens deixaram marcas na sua atividade literária, na qual ganhou fama graças à poesia (Oceano, 1905; Poesias, livro póstumo, 1942), à narrativa (Serão inquieto, 1910) e ao teatro. Neste último género distinguiu-se pela sua contribuição para o património teatral simbolista português, “de cuja estética reteve a essência, ainda que por vezes a linguagem sacrifique ao gosto decadente da época”, mas ansiando por um teatro poético: “embora sejam evidentes as aproximações com os grandes nomes dos simbolistas – a concepção do ‘drama estático’ de Maeterlinck, o preciosismo verbal de D’Annunzio, a carga poética de Yeats – há no teatro de Patrício uma ressonância humana a que a presença, latente ou manifesta, mas sempre obsidiante, da morte confere uma verdadeira dimensão trágica” (REBELLO, 1984: 108).As cinco peças publicadas são todas permeadas pelo sentido da dissolvência e pela presença da morte. O fim (1909), drama histórico em dois quadros que alude ao regicídio e prevê a queda da monarquia, foi vista como uma peça antecipadora do teatro do absurdo, mas de um “absurdo aberto para a História”, com a narração da “tragédia de uma raça que se suicida” e onde se joga “o destino do Homem. Aqui a Rainha-Avó, louca, é também a Pátria que morre de fome, sonhando com banquetes de grandeza e fascínio, mastigando os restos de um passado mitificado (...) Poema de um extremo pessimismo onde por breves instantes paira a sombra de Shakespeare reencarnada por Beckett (...) Sessenta anos antes de Ionesco, António Patrício proclama que o rei está morto” (PORTO, 1973: 216-217). Ignorada durante décadas, esta peça foi redescoberta só muito recentemente, chegando a ter a sua estreia absoluta em 1971 na Casa da Comédia de Lisboa, com encenação de Jorge Listopad, e desfrutando desde então de um êxito surpreendente, vindo a integrar regularmente o repertório de companhias amadoras e profissionais.
Pedro o Cru (1913, editada em 1918), definida pelo próprio autor como “tragédia da saudade”, da nostalgia pelo amor perdido devido à morte da amada, é a representação da transição, ou antes “um elo de ligação entre o decadentismo simbolista (...) e o saudosismo de Pascoaes, simbiose, digamos, de que virá a nascer o paulismo de Orpheu, ou seja a primeira fase da literatura modernista” (SIMÕES 1985: 256). A peça, em quatro atos, foi transmitida pela RTP em 1974 e levada à cena pelo Teatro Nacional D. Maria II, em 1982. Com Dinis e Isabel (1919) o dramaturgo quis transpor em cinco atos a tragédia “de um homem que amou uma santa”. O subtítulo shakespeariano “conto de primavera” evidencia as suas intenções líricas, que atingem o auge no último ato como uma “tragédia estática” porque toda a ação se esgotara já no ato anterior. Um excerto do primeiro ato foi apresentado em estreia absoluta no dia 21 de setembro de 1931 no Teatro Nacional Almeida Garrett (hoje Teatro Nacional D. Maria II) em ocasião da estreia mundial de Um sonho (mas talvez não) de Luigi Pirandello, em que o dramaturgo siciliano esteve presente, pois participava em Lisboa no V Congresso da Confederação Internacional da Crítica Dramática e Musical. Houve uma nova montagem de Dinis e Isabel em 1992 pelo Teatro da Politécnica no Teatro da Trindade. Quanto à “fábula trágica” em três atos D. João e a máscara (1924, estreada pelo Teatro da Politécnica em 1989), tem como epígrafe uma frase de Shakespeare, “Nothing can we call our own but death. / Bem nossa, só a morte”, e é uma versão do mito de Dom Juan que ignora a parte anedótica para mostrar um “religioso instintivo”, um “místico amoral” que em todas as mulheres amadas, afinal amou a máscara de uma só mulher: a morte. Por fim, o ato único Judas (1924) foi levado à cena em 1946 pelo Grupo de Teatro Moderno da Faculdade de Letras no Teatro do Ginásio e em 1990 pelo Grupo Teatro Hoje no Teatro da Graça, integrado no espetáculo Cenas da vida de Benilde a partir de Benilde ou a Virgem Mãe de José Régio (são estreias, respetivamente, no teatro amador e no teatro profissional).
Patrício, para além de ter colaborado com as revistas Águia, Límia e Atlântida, deixou vários textos inacabados: O Rei de sempre, “tragédia nossa” com temática sebastianista, em cinco atos, redigida em Bremen em 1914; A paixão de mestre Afonso Domingues, drama histórico em três atos incompletos, baseado num romance de Alexandre Herculano (A abóbada), redigido na Nazaré em 1929 e representado em 1985 no Teatro Nacional D. Maria II; Auto dos reis ou da estrela, de que existem apenas fragmentos datados setembro de 1929; Teodora “um sonho de Bizâncio”, de que nos chegaram breves anotações acerca da estrutura e esboços de algumas cenas; Diálogo na Alhambra, fragmento editado pela primeira vez no Porto, nas páginas do periódico A labareda, em 1914 e recentemente reeditado num projeto editorial coordenado por Armando Nascimento Rosa.
Este texto é a versão revista, em português e em dia, da ficha bio-bibliográfica de António Patrício editada in: Sebastiana Fadda (a cura di), Teatro portoghese del XX secolo, Roma, Bulzoni Editore, 2001. Desta antologia faz parte a peça La fine.
Textos de/para teatro
1909: O fim
1918: Pedro, o cru
1919: Dinis e Isabel
1924: D. João e a máscara
1924: Judas
PATRÍCIO, António (1982). Teatro Completo. Lisboa: Assírio&Alvim.
Bibliografia
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Consultar a ficha de pessoa na CETbase:
http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Pessoa&ObjId=7948
Consultar imagens no OPSIS:
Sebastiana Fadda/Centro de Estudos de Teatro