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Os Lusíadas
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Poema épico (1572) de Luís de Camões, de inspiração clássica (segundo a Eneida, de Virgílio) mas de manifesto saber contemporâneo, colhido na observação, é constituído por dez cantos compostos de décimas em decassílabos heróicos, e vive de uma contradição esteticamente harmonizada entre a acção das divindades pagãs (que ajudam ou prejudicam o progresso dos Portugueses na viagem marítima para a Índia, tema do livro) e a tutela do sentimento cristão e da expansão da fé, que anima um ardor de conquista e de possessão do mundo.
Vasco da Gama é o herói, Vénus a sua deusa protectora e Baco o adversário temido - mas a «lusa gente» chega à Índia, dá «novos mundos ao mundo», e o Poeta narra este empreendimento insigne alternando a fogosidade do entusiasmo e da crença com o desengano do reconhecimento da mesquinhez humana, «mísera sorte, estranha condição».
Escrito com mestria narrativa exemplar, o poema
representa o exercício em perfeição da língua portuguesa, moderna, dúctil e
rica em complexidade expressiva e em matizes líricos de excepção.
Já se viam chegados junto à terra
que desejada já de tantos fora,
que entre as correntes Índicas se encerra
e o Ganges, que no céu terreno mora.
Ora sus, gente forte, que na guerra
quereis levar a palma vencedora:
Já sois chegados, já tendes diante
a terra de riquezas abundante!(...)
Um ramo na mão tinha... Mas oh, cego
eu, que cometo, insano e temerário,
sem vós, ninfas do Tejo e do Mondego,
por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
por alto mar, com vento tão contrário
que, se não me ajudais, hei grande medo
que o meu fraco batel se alague cedo.
Os Lusíadas, Canto VII
© Instituto Camões, 2001